Feira da Reforma Agrária leva 170 mil pessoas ao parque


Debates de alto nível foram acompanhados atentamente pela plateia
Apesar de a grande mídia sequer ter noticiado o evento, a 2ª Feira Nacional da Reforma Agrária, realizada entre os dias 4 e 7 de maio, levou 170 mil pessoas ao Parque da Água Branca. Nosso repórter Francisco de Souza esteve por lá e constatou o sucesso da promoção do Movimento dos Sem Terra (MST).
Além de barracas com alimentos orgânicos (sem agrotóxicos), produzidos nos assentamentos do movimento social de todo o país, a feira teve shows musicais, peças de teatro, literatura de cordel, moda de viola, cururu e debates com a participação de personalidades.  Tudo isso foi apresentado ao público, que pagou apenas pela compra dos produtos alimentícios e de artesanato produzidos exclusivamente pelos trabalhadores assentados, mas vendidos a preços populares.
No sábado, dia 6, enquanto parte do público, comprava os alimentos orgânicos nas inúmeras barracas, acontecia o debate sobre “Alimentação Saudável”, que contou com as presenças do coordenador geral do MST, João Pedro Stédille; da apresentadora culinarista, Bela Gil; da atriz e ativista das causas indígenas, Letícia Sabatella; do ex-ministro da Saúde, Alexandre Padilha; e do ex-presidente do Uruguai, Jose Mujica.
Artesanato e produtos orgânicos, sem agrotóxicos
VENENO EM NOSSAS LAVOURAS Durante as duas horas de debate, que contou com grande público, lotando todas as dependências do teatro de arena armado no local, inclusive com muitas pessoas assistindo de pé nas calçadas laterais do parque, foram apresentados muitos números em relação à produção agrícola no país; quantidade de agrotóxicos, sementes transgênicas (geneticamente modificadas em laboratórios) e adubos químicos utilizados no chamado “agronegócio”; culturas alternativas, como o arroz orgânico do MST, que é o maior produtor da América Latina; o poder das indústrias alimentícias no mundo, que segundo o dirigente do movimento, vem dominando através de 58 empresas transnacionais, a agricultura e a produção de alimentos.
“Cerca de 20% do veneno produzido no mundo é despejado nas lavouras brasileiras. Cinco empresas
Feira abriu espaço para todos os tipos de protesto
controlam o mercado mundial de leite em pó. Há 100 anos, a humanidade se alimentava com 300 diferentes tipos de alimentos, hoje 80% da nossa alimentação são baseados no cultivo de cinco diferentes tipos de grãos: trigo, arroz, feijão, milhão e soja, que são controlados pelas transnacionais de alimentos. E o interessante que as mesmas empresas que fabricam os agrotóxicos, fabricam os remédios. Ou seja, primeiro te levam ao câncer e depois, tentam te tirar o câncer”, explicou João Pedro Stédille.

CONSUMISMO E GANÂNCIA O ex-presidente do Uruguai, Jose Mujica, que também foi camponês e até hoje, cultiva seus alimentos, no sítio onde mora, encerrou o debate, enfatizando a importância da reforma agrária e do fortalecimento da chamada “agricultura familiar”, para a redução da fome no mundo e da mudança de paradigma na humanidade, segundo ele influenciada pela cultura do mercado, do consumismo e da ganância.
“A terra não pode ser um calvário de pobreza, mas um instrumento de libertação. E não apenas para negócios, tem que se colocar a alma para plantar, porque terra plantada sem alma é um fracasso. O homem nunca teve os meios que têm hoje. Se pensarmos, tecnicamente e, pela acumulação de capital e conhecimento, o homem poderia lidar com a miséria e reverter muitos desastres, porém, vivemos numa civilização que inventou as mais incríveis tecnologias, porém é dominada por elas, ao invés de dominá-las e isso, porque o motor dessa energia formidável é a ganância. Vivemos uma cultura que te diz: ‘Para você ser feliz é preciso ser rico’. É preciso cambiar (mudar) essa cultura, se não cambiar (mudar) a cultura não cambia (muda) nada”, refletiu Mujica.
Moda de viola e cururu, para reavivar tradições do povo da roça
        
Expositores de todo o país trouxeram à feira produtos saborosos e saudáveis
        

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