Time do bairro está nas origens do futebol no Brasil

Nacional, time da Rua Comendador Souza, jogando contra o Juventus, no clássico paulistano batizado como "Juvenal"

Quando o árbitro Leandro Bizzio Marinho apitou a final da partida entre Internacional de Limeira e Nacional, da capital, que decidiu o título do Campeonato Paulista da Série A3, no dia 27 de maio, no estádio Major José Levy Sobrinho, no interior paulista, estava sendo resgatado naquele momento, um dos mais belos capítulos do futebol brasileiro. A conquista foi épica, pelas circunstâncias do campeonato, com o time da Rua Comendador Souza revertendo dois placares adversos, na semifinal contra o Olímpia e na final contra o time que já foi campeão paulista da Divisão Especial. Após perder seus primeiros jogos em casa,  o “Ferrinho” ou “Naça, na raça", como diz um dos bordões de sua apaixonada torcida, garantiu o primeiro o acesso à Série A2, numa dramática disputa de pênaltis e depois corou a campanha com o título, vencendo o jogo por 2 X 0.
Fundado em 1919, o Nacional tem sua sede social encravada em meio a espigões no bairro da Barra Funda

Mas, por que o título significou um resgate histórico? Primeiro porque o Nacional Atlético Clube, fundado em 1919, está perto de completar 100 anos e disputará em 2018 Série A2, no passado chamada de 2ª Divisão, por sinal, onde o time esteve por mais tempo ao longo de sua história.
Segundo, porque caso o time consiga neste campeonato ser campeão ou vice, disputará no ano de seu centenário, a Série A1, no passado chamada de 1ª Divisão e jogará contra os chamados grandes clubes do Estado: Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo, um sonho sempre acalentado pelo clube.
E, finalmente, porque antes disso terá que superar rivais de muita tradição, como Portuguesa, Juventus e Guarani, fazendo da Série A2 de 2018, um campeonato recheado de clássicos.

Vagão de "Maria Fumaça" no clube lembra como tudo começou
1º TIME DO BRASIL Reza a lenda que, quando o paulista Charles Miller regressou de sua viagem de estudos à Grã-Bretanha, em 1894, trouxe na sua bagagem uma bola, duas traves, um apito e um livro com 17 regras. Nascia ali o futebol no Brasil, mas para isso era necessário um jogo para inaugurar o chamado esporte “bretão” nas “terras tupiniquins”. Pois, o jogo foi marcado para o dia 14 de abril de 1895, na antiga Várzea do Carmo, onde hoje fica o cruzamento da Avenida Mercúrio com a Rua do Gasômetro, próximo ao Rio Tamanduateí e ao Parque Dom Pedro II.
Os times: funcionários da São Paulo Gás Company (antigo nome da Comgás) e da SPR – São Paulo Railway (empresa de origem inglesa que implantou a estrada de ferro no Brasil, onde um dos diretores era o pai de Charles Miller). Desnecessário dizer em qual time o “pai” do futebol brasileiro, imortalizado no nome da praça em frente ao time do Pacaembu, jogou.
Em 16 de fevereiro de 1919 foi criado o São Paulo Railway Atletlic Club; em 1946 com a nacionalização da ferrovia e a criação da RFFSA (Rede Ferroviária Federal), o nome foi mudado para Nacional Atlético Clube.
O vice-presidente do Nacional, o advogado e ferroviário aposentado, Edison Gallo, 71 anos, 69 de Nacional, filho de um antigo conselheiro, também ferroviário, conta que a ligação com a ferrovia é tanta que até hoje o estatuto do clube obriga que parte da diretoria e do conselho, seja de ferroviários na ativa ou aposentados.

CELEIRO DE CRAQUES Sobre os momentos marcantes da história do clube, Gallo cita o
Troféus revelam glórias conquistadas ao longo de 98 anos de história
histórico jogo de 1947 contra o Flamengo, num Pacaembu lotado e que marcou o fim da concessão da São Paulo Railway, que encerrava suas atividades no Brasil, passando a gestão da ferrovia para a antiga RFFSA e a consequente mudança de nome do clube.  Gallo destaca ainda os inúmeros títulos das divisões de base e de acesso e os jogadores famosos que começaram ou encerraram as carreiras no Nacional.
“Cafu, Deco, Dodô, Sylvinho, Thiago Mota, Magrão (goleiro do Sport) começaram aqui. Roberto Dias, Chinesinho, Servílio, Edu Bala, Romeu, Biro-Biro encerraram suas carreiras no Nacional. Durante todo esse tempo aqui vivenciei muitas alegrias, que foram os títulos e os acessos para divisões superiores, mas também algumas tristezas, que foram alguns rebaixamentos, onde descemos para divisões inferiores, e a minha maior tristeza foi a final contra o São José, no Canindé, onde fomos literalmente roubados pela arbitragem, senão subiríamos para a 1ª Divisão depois de muitos anos”, recorda Gallo.

UMA PONTINHA DE MÁGOA Sobre as origens do clube, que se confundem com as próprias origens do futebol brasileiro, Gallo revela uma certa mágoa com o Museu do Futebol, que não dedica sequer uma parte de seu acervo ao Nacional e reclama ainda da grande mídia, que não divulga nada sobre a Copa Paulista, que reúne no 2º semestre do ano, as equipes do Estado de São Paulo, que não disputam nenhuma divisão do Campeonato Brasileiro, classificando o campeão para a série D do campeonato nacional do ano seguinte ou para a Copa do Brasil.
“Infelizmente o Campeonato Brasileiro prolongado acabou com os estaduais, e a grande mídia não tem interesse em cobrir as competições que participamos. A cobertura sempre foi pequena, mas na época da ‘A Gazeta Esportiva’ ainda saíamos no jornal. Aliás, foi na ‘Gazeta’ que o jornalista Tomaz Mazonni, batizou o nosso jogo contra o Juventus de ‘Clássico Juvenal’. O Museu de Futebol é lindo, não tem dúvida, mas não fala nada do Nacional. Tem um quadro lá que remete ao primeiro jogo de futebol no Brasil com a legenda: SPR X Companhia de Gás, mas não fala que o SPR era o Nacional. Por outro lado, já fomos assunto para cinco TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) de Jornalismo, onde os alunos vieram aqui em busca do resgate da história do nosso clube”. (((Reportagem e fotos: Francisco de Souza//Edição de texto e fotos: Antonio Marcos Soldera)))

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